domingo, setembro 21, 2008

[quadrilha pós-moderna]

Ana abriu uma carta que não era para ela. Dentro tinha um cd, que Luisa havia feito especialmente para enviar para Júlia, que só recebeu a carta depois de Ana, por algum motivo, ter copiado o cd e cuidadosamente lacrado a carta. Em casa, sozinha, Ana ouviu-o pela primeira vez, e percebeu que era um cd de amor. Era um cd de amor, era o cd mais bonito que Ana já tinha ouvido. E era para Júlia. Luisa fez um cd de amor para conquistar Júlia, mas que conquistou Ana, que não queria nada com Júlia, que constantemente a convidada para jantar e ir ao cinema. Luisa, ela sim jantaria com Júlia, Luisa gravou até um CD para que Júlia a convidasse para um cineminha e quem sabe um jantar depois, mas Júlia nem se importou, nem ouviu aquele cd de amor. Mas Ana ouviu, e quis dar para Luisa (que nem conhecia) tudo aquilo que ela nunca daria para Júlia, que era tudo que Luisa queria receber mas também não receberia, não de Júlia. E nem daria a Ana, por que na verdade nem a conhecia, talvez nunca chegasse a conhecer (e mesmo se conhecesse nunca faria para ela um cd de amor como o que fez para Júlia, afinal era PARA JULIA), talvez nunca nem chegasse a saber que seu cd não tinha conquistado Júlia, mas conquistou Ana, e essa sim havia conquistado Júlia, a sua Júlia. Conquistado sem querer, porque na verdade só queria Luisa, não queria mais ninguém, afinal era um cd de amor, era o cd mais bonito que ela já tinha ouvido.