domingo, outubro 14, 2012

sobre cafés e águas


quarta-feira, outubro 10, 2012

laboratório de porifera

no caminho do laboratório de conservação tem o laboratório de poríferas. o corredor cheira a algum químico, que eu não sei qual é. talvez formol, por conta do laboratório de taxidermia logo mais a frente.

as vezes o lab de taxidermia está aberto, e eu passo bem rápido pra nem ter curiosidade de olhar.

mas o lab de porifera, não sei porque, mas ele meio que me fascina. eu perco um certo tempo da minha vida pensando nisso.

sempre que eu passo por ele, fico namorando essa placa. hoje eu saquei o celular muito rápido pra poder tirar essa foto, e ninguém ver. tenho vergonha que as pessoas percebam essa minha atração.

essa porta está sempre fechada. nunca vi ele por dentro. fico imaginando o que tem lá. na minha cabeça são várias prateleiras, com seres vivos em forma de cacto, mas feito de esponja (igual a de banho), meio se mexendo como se estivessem na água. cientistas e pesquisadores ficam lá, com o bisturi, dissecando as poríferas, elas gritando, escorrendo sangue poriferal no chão, enquanto eles descobrem segredos do fundo do mar.

ou também penso que pode ser um lugar com um monte de prateleiras a meia luz, com vários vidros cheios de álcool e seres humanos inteiros boiando, enquanto as poríferas de jaleco e bisturi na mão ficam dissecando cada partinha dos corpos dentro dos vidros. afinal, o laboratório é delas, elas que mandam. por isso nem tento entrar lá, tenho medo de nunca mais sair. aí quando tem visita das escolas dos porífinhos, os curadores do laboratório de porífera falam "pessoal, esse é um exemplar de ser humano da época do D. João VI, recolhido pelo rei porífero por si. ele era um grande colecionador dessa espécime".

segunda-feira, outubro 08, 2012

café pra encharcar a angústia

sol pra esconder a tristeza


sábado, outubro 06, 2012

as outras dimensões do pré sono

cortei o cabelo ontem e hoje já choveu. eu tentei ficar bonita, porque sei lá, mas choveu, fez calor, fez frio. aí eu entrei em casa, e não era minha casa. não era o cheiro da minha casa. sou muito apegada a cheiros. as vezes sinto o cheiro da minha avó na rua, nos lugares. as vezes sinto os cheiros das minhas ex-namoradas, e quase sinto o gostar novamente. se eu fechar o olho tudo vem novamente. e não era o cheiro da minha casa. as vezes umas lembranças que eu não sei do que são. eu só relembro um vazio, uma sensação, um silêncio. as vezes nesse entremeio entre estar acordado e dormir eu só sinto que de repente tudo faz sentido naquela lógica dilatada dos primeiros segundos antes de cair no sono.

sexta-feira, outubro 05, 2012

dia de sol

estrela do mar, deserto de sal, chapadas
são petesburgo, sibéria, aurora boreal
gatos, cerveja gringa, dormir
nova iorque, sexo, nova goiás
paranapiacaba, mochila nas costas, amsterdã
curitiba, londres, pé na estrada
dormir, comer, ser.

quinta-feira, outubro 04, 2012

água e bile

acordei, tomei a pílula da felicidade do dia e saí.
só que ela não me caiu bem.
estrela do mar, deserto de sal, chapadas e culpa.

vomitei.
não tinha nada
comida, bile, tristeza
nada
só água

e aí, vc está bem?
o mundo vai continuar girando.
ou parando
a culpa não é minha

quarta-feira, outubro 03, 2012

desejo e necessidade

"...the conquest of the superfluous gives us a greater spiritual stimulus than the conquest of the necessary because humans are creations of desire, not need."

sexta-feira, setembro 28, 2012

multiplas exposições


faço
refaço
desfaço
disfarço

eu
no meu
só meu
império
estados unidos
de mim
em eterno desacordo

inicia-se a guerra
minha secessão
não somos poucos
nem parvos
porcos insossos

cada um com o
seu
eu
com a sua
referência
preferência

não somos todos
não sou nenhum
dublinense
carioca
paulista
papa goiaba

sou do mundo
não sou
não eu
não teu

sábado, setembro 22, 2012

simples


quarta-feira, setembro 19, 2012

acho tão bonito


"...objetos excepcionalmente apropriados e exclusivamente capazes de portar sentido, estabelecendo uma mediação de ordem existencial (e não cognitiva) entre o visível e o invisível, outros espaços e tempos, outras faixas de realidade."  

quarta-feira, setembro 12, 2012

um ode ao meu novo ofício

gosto muito de trabalhar com as mãos, com o corpo. de chegar em casa suja de pó, de madeira, de tinta, suada, com os dedos e mãos e roupas sujas. chegar com o corpo cansado.

eu curto muito a ideia de "aprender um ofício", como era antigamente. as pessoas aprendiam um oficio com um mestre, e herdavam os trabalhos, os clientes. tem alguns que eu acho interessantíssimos: chaveiro (não o tiozinho que fica na esquina e faz cópia de chave. o cara que manja mesmo de fechaduras, trancas, chaves. é uma lógica interessantíssima a da fechadura), ourives (o processo de lapidar uma pedra de forma artesanal é algo muito delicado), luthier (sem comentários, o cidadão faz instrumentos musicais).

não sei, nos tempos de hoje, que a vida está cada vez mais virtual, me agrada muito a ideia de me apegar a um trabalho "físico", pegar na mão, sentir o cheiro, testar a consistência, limpar, polir, restaurar, conservar o que sobrou.

domingo, setembro 09, 2012

domingo

doce de leite, vento quando está calor, casaco quando está frio, arte e amor, é só isso que eu preciso da vida.

sábado, setembro 08, 2012

sábado

desde os tempos mais antigos sabe-se que os Davies são uma espécie meio nômade que se caracteriza por viver sempre com a mochila nas costas.

sexta-feira, setembro 07, 2012

sexta-feira

tenho ânsia de ver, viver, sorver, pensar, concluir, fotografar, aprender, entender, escrever.

desassossego.

quarta-feira, setembro 05, 2012

quarta-feira

acordei, escovei os dentes e esvaziei meu coração na pia do banheiro. o sol saiu, nem frio tenho mais.

terça-feira, setembro 04, 2012

terça-feira

chove no rio de janeiro, e parece que eu, como um buraco negro, vou colapsar. de tão densa, caio para dentro de mim mesma e não deixo vestígio nenhum.

segunda-feira, setembro 03, 2012

segunda-feira

- gente, mas o que que aconteceu?
- a vida. foi isso que aconteceu.

segunda-feira, agosto 27, 2012

a ansiedade da perda

tem um lugar aqui no rio que eu gosto de ir, acho que é meu lugar preferido.

é o aterro do flamengo, atrás do mam. a vista pra baia é bonita. em geral fica silêncio. não ouço ninguém. só os aviões subindo e descendo no santos dumont.

várias vezes vou pra lá só esperar o tempo passar, a maresia soprar, o sono chegar.

essa foto eu tirei lá, hoje.

não tinha nada pra fazer na hora do almoço, fui fazer nada lá.

a minha ansiedade da perda me fez registrar essa lembrança, e mais mil coisas que resgato e guardo no caminho. ouvi essa expressão numa palestra hoje, e na hora meu coração se sentiu muito acolhido por esse sentimento.

com medo de perder, eu guardo caixas e mais caixas de coisas que eu sempre acho que são importantes, que eu posso precisar. quando digo caixas quero dizer caixas, cadernos, folhas, fotos, músicas e mais os milhões de coisas que eu finjo que joguei fora mas na verdade tô só guardando mais escondido.

eu sei que de alguma forma elas fazem parte do quebra cabeça, todas são peças fundamentais. só não sei ainda o que ele forma.


terça-feira, agosto 14, 2012

rapid eye movement

em 2007 eu tinha 5 anos e 5 kilos a menos.

as vezes fico com vontade de ficar dormindo uma semana inteira só pra ficar sonhando.

domingo, agosto 12, 2012

tempo tempo mano velho

quando eu tinha uns 15 anos quase todo dia eu sentava no mesmo banco, com a mesma amiga e ficava jogando conversa fora. era pindamonhangaba e realmente não tinha nada pra fazer. a gente sempre falava algo tipo "e se a gente nunca mais conseguir sair desse banco?". o cabelo crescendo, a pele enrugando, o corpo menstruando.

eu sempre penso nisso. consegui levantar do banco (será? fiquei na dúvida agora, confesso), mas meu cabelo continua crescendo, a pele enrugando, o corpo menstruando. o tempo é inexorável, diria meu pai. a primeira vez que eu ouvi essa palavra inexorável eu senti uma coisa assim, é uma palavra tão forte, tão pesada. eu nunca tinha ouvido e não sabia o que significava, mas naquela hora eu soube, porque o tempo realmente só pode ser isso.

inexorável 
(latim inexorabilis, -e

adj. 2 g.
1. Que não cede a rogos nem a lágrimas; que não tem piedade. = CRUEL, IMPIEDOSO, IMPLACÁVEL, INSENSÍVEL ≠ COMPASSIVO, EXORÁVEL, PIEDOSO

2. Muito rigoroso. = DURO, IMPLACÁVEL ≠ EXORÁVEL
3. A que não se pode escapar. = INELUTÁVEL

terça-feira, agosto 07, 2012

non rapid eye movement

tinha resolvido anotar meus sonhos, mas fiquei com ciúmes. coloca-los no papel faz tudo parecer tão plano e simples, prefiro-os oníricos e fugidios na minha cabeça, mesmo eles indo embora assim, de repente.

toda noite quando vou dormir me sinto tão confusa. mas tempo entre fechar os olhos e adormecer é o meu preferido, dentre todas as horas do dia. é o momento em que o espírito vagueia, sem restrições. é a hora que faço conexões absurdas.

passo dias querendo tanta coisa, que não sei o que faço.

boicoto-me, perco o interesse, faço que preciso de outro estímulo. depois fico choramingando porque não consigo levar nada até o fim.

 fiz então um cronograma.

quarta-feira, julho 25, 2012

duas considerações

Primeira

Do alto do meu periodo sabático estou empilhando coisas que não tenho tempo pra fazer. Poderia pensar que o tempo que é curto mesmo, mas tô chegando a conclusão que o tempo é como dinheiro: quanto mais a gente tem, mais a gente gasta e sempre vai achar que precisa de mais.

Segunda

Alguém dirá que a graça da vida é a dificuldade, a tensão, a dúvida, o sofrimento.

Tenho vontade de chutar.

sexta-feira, julho 20, 2012

viagens e roupas

Um periodo sabático não é só pra não fazer nada.

Já viajei algumas vezes, poderia dizer que várias. Essa era mais uma viagem, dessa vez para dentro.

Depois de mudar tanto, não posso mais voltar àquela forma antiga, tão desgastada, velhinha, puída. Minhas roupas preferidas, sempre acabo enjoando delas um dia. Porque não enjoaria dos velhos hábitos, longe de serem tão preferidos assim?

Como uma árvore, cresço de fora para dentro.

Agora assim, desamarrada, parece que sou o que quiser ser. E um sentimento estranho: parece que estou começando a ter uma vaga ideia do que seria isso. Essa coisa de ser feliz é esquisito mesmo né.


Vi por aí:

"Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos."

segunda-feira, julho 09, 2012

rascunho

O problema é que eu acho sempre que é necessário colher mais informações, e acabo nunca escrevendo e finalizando o trabalho.
Acho que eu tenho medo do trabalho ficar uma merda, então eu enrolo pra nunca chegar esse momento. Ou eu sou tão insegura que nunca acho que estou pronta.

Se continuar assim vou ser eternamente um esboço de tudo aquilo que poderia ter sido.

domingo, julho 08, 2012

ensaio sobre o ato de ser


Eu não sei improvisar.
Só se for pra mentir, sou meio mitomaniaca. Mas mentirinha
mentira branca pode
é fantasia.
Na maioria das vezes estou ouvindo
Nem sempre prestando atenção.

Não sei improvisar.
Gosto da repetição.
O caminho de sempre sempre rende fotos mais bonitas.
O pão molhado no café com leite sempre fica bom.

Não sei improvisar, mesmo.
Estou sempre me repetindo
Tentando escrever, fotografar, lembrar.
Anotando aquilo que está passando, acabando de virar passado.
Quem eu sou? Que eu penso? Eu sinto?
Vai que eu preciso.

Eu não sei me desapegar.

domingo, janeiro 15, 2012

corredor da morte

Eu sou um apanhado de tristeza e culpa, que todo dia sai de casa exsanguinando vagarosamente, pingando, deixando rastros, traços pelas ruas e ônibus, indo a contra gosto trabalhar. Chegando finalmente morro, branca, pálida, vazia, até a hora de sair. Aí eu durmo até o dia seguinte, que é quando meu corpo se recompõe. É nos sonhos que eu vivo, nas 2 horas entre a hora que acordo e a hora que começo novamente a gotejar toda a vontade de viver.

As paredes da minha casa tem pegadas e marcas de mão, de quando eu não quero ir e tento me segurar. Mas não adianta, meu sangue já começou a pingar e eu não consigo estancar. Meus olhos ensaiam lágrimas e procuram pelo caminho uma solução, mastigam a mesma vista todo dia, a mesma refeição pré morte, o café com leite e pão com manteiga que os exsanguinadores tomam pela manhã, todos gotejando tristemente pelos ônibus, pelas ruas, correndo, escorrendo, esperando, tentando se agarrar nos postes e paredes enquanto vão.

Ninguém sabe, ninguém sabe o que se passa aqui dentro, porque é como tirar a roupa: íntimo. É lento: doloroso. Definho e escorro, choro, rosno e ameaço. Pra onde vou, não sei. Da onde vim, sei não.

Todo dia eu só penso em poder parar, todo dia eu só penso em dizer não.

sexta-feira, janeiro 13, 2012

eu passo e a vida não passa

da janela do mesmo ônibus, tudo continua a mesma coisa. eu não.

o ultimo mês de trabalho é o melhor

Parece que aquela tristeza niilista dos trabalhadores sem perspectiva some, porque existe perspectiva! Dali a 1 mês. É como se fosse a luz no fim do tunel. Se você não for forte dá até pra desistir da demissão, tão bom que vai parecer trabalhar. Mas, não se enganem. É só o sopro da liberdade arejando todo o mofo da vida cotidiana. No momento em que se desiste da demissão, desiste-se da liberdade.

domingo, janeiro 08, 2012

me olhei no espelho e vi os pés de galinha. é, eles existem. alguns fios de cabelo branco que ainda dá pra achar graça. chegou a hora do retorno de saturno.

Não sei explicar direito como começou. Parece que de repente as coisas perderam o sabor, e eu passei a existir de forma insossa. Eu era comida de hipertenso: sem sal, sem fritura, grelhada na água. Salada de frutas pra matar a vontade de chocolate.

Desanimei. Tentei trocar de emprego, não adiantou. Eu estava cansada daquelas coisas que eu já sabia, aquilo era uma laranja seca e azeda, que não rendia caldo nenhum. Pensei em trocar de profissão, em virar fotógrafa, motion designer, artista, montadora de exposições, operadora de retro-escavadeira, cobradora de pedágio, e não cheguei a conclusão nenhuma, NENHUMA. Zerinho. Então resolvi parar. Parar pra não ter perigo de seguir para o lugar errado.

A cena agora é essa: eu sentada no ônibus, indo trabalhar, nas vésperas de pedir demissão do meu trabalho, onde as pessoas são lindas e bacanas. Não são vocês, sou eu - direi eu. Mas, como num fim de namoro, vai parecer que a culpa é minha, mas na verdade eu estarei fazendo o melhor para ambas as partes. Eles não precisam de uma profissional em crise, e eu preciso ficar quieta.