terça-feira, fevereiro 10, 2004

Toque. Sinta. Sinta o calorzinho quente vindo das minhas mãos. Sinta meus pés gelados atrás dos seus. Sinta minha voz rouca atravessando esse mar de nada entre nós para dizer-lhe "amo você". Sinta o que eu sinto com esse abraço apertado, meu cheiro como seu, minha pele com a sua, sua boca com a minha. Leia nos meus olhos o que eu quero dizer, mas sou incapaz de.

(para minha namorada)

Era uma vez uma Menina. Ela não sentia nada, nunca. Por acaso ela pegava algum livro e acava lendo por inércia. Filmes também. Eles acabavam e ela nem percebia. Um dia ela ouviu uma música tão doce (parecia fazer tanto sentido todas aquelas notas, uma atrás da outra) que ela deitou ali onde estava e morreu.

No dia seguinte ela levantou e achou tudo aquilo uma mentira. Olhou para o lago abaixo da ponte onde estava e achou ele tão verdinho que pensou que fosse chorar. Não, não era uma mentira. Resolveu andar um pouco para esticar as pernas. Andou, e viu outra menina sentada na grama, encostada numa árvore.

- Foi você que tocou aquela música?
- Não. foi você?
- Não. Mas então você também ouviu?
- Não.

Sentou-se ao lado dela. pensou que se ela fosse um gatinho ela a colocaria no colo e faria carinho, como os gatinhos gostam. Mas ela não era um gatinho. Mas a Menina resolveu fazer carinho nela assim mesmo. E mesmo não sendo um gatinho, a outra menina gostou. Gostou tanto que deitou e dormiu. A Menina então deitou do lado, passando seu braço por cima dela. Achou tão gostoso que quis ficar lá para sempre.

domingo, fevereiro 08, 2004

[so happy together.... how is the weather?]

Obviamente menor de idade, a menina solta a fumaça do cigarro desviando o olhar para o infinito, como se a mulher da entrada do motel tivesse muito preocupada com outra coisa além do relógio que marcava a hora de ir embora. Claro que a mulher não percebeu as olheiras fundas nos olhos da menina, nem o olhar triste do menino no carro junto com ela. Nem a garrafa de pinga barata embaixo do banco do carro. Era um acordo de cavalheiros: a mulher não liga para quem entra e quem entra não liga para o trabalho relapso da mulher. Relapso? Sim. Em todos os rostos a mesma expressão de "riso-nervoso-tesão-reprimido". E isso irrita, porque se ela chegar em casa com essa expressão, o cara (sim, digo o cara porque seria muito chamar aquele homem de marido) que parasita aqueles comodos vai perguntar se o dinheiro do trabalho tá pouco por isso ela resolveu virar prostituta. Enfim, ela não reconheceu essa expressão nos meninos de olheiras fundas e olhares tristes. Não sei se passou pela sua cabeça que o ultimo motivo pelo qual eles tavam lá era o sexo. Que na verdade eles só queriam beber e conversar, até dar a hora de ir embora. E era tão duro ir embora... deixar a bolha que eles criaram só pra eles dois e voltar ao mundo das pessoas, das brigas em casa, do choro incontido, dos tapas na cara, das corridas sem fim até as pernas cansarem. Pouco antes do carro arrancar, a menina voltou o olhar do infinito (para onde ela olhava para disfarçar sua pouca idade) e depois de fitar rapido (mas o sufuciente) os olhos da mulher, pensou que talvez ela não fizesse parte do mundo das pessoas, para onde ela temeria voltar algumas horas mais tarde. Talvez ela também temesse voltar para lá.