sábado, maio 13, 2006

[para samira]

ana e o algoritmo de sua crise

Assim como uma nuvem que colapsa e vira uma estrela, Ana caiu sob seu próprio peso, e este, tendendo ao infinito proporcionou-lhe uma queda e tanto.

A queda durava tanto, tanto mais do que tudo que havia vivido até então, que esta deixou de ser um estado transitório para virar a condição permanente. A vida tinha tornado-se a queda, com vento na cara e braços abertos.

E cada vez mais sua própria gravidade a puxava para dentro de si. E essa força, que pela lógica a deixaria cada vez menor, pelo contrário, a engrandecia tanto que Ana não cabia mais dentro de si. E o buraco da queda crescia sem fim: o chão não chegava nunca. Era como se ela houvesse se esquecido de como eram as coisas concretas e palpáveis. Essa tinha-se tornado uma sensação perdida, uma lembrança empoeirada. Como um gosto de infância, evocado quase num deja vu. vu.

Desacostumou-se a viver com a certeza. Esta não era mais presente, portanto, não mais necesssária.

"Mas eu gosto da certeza", pensou ela. "Mas eu gosto do arrepio da eterna queda também", concluiu. Ana transbordava seu microcosmo, mas se sentia pequena demais oscilando nos espaços perdidos do macro. Não sabia como agir. Tinha se tornado contraditória. Ora era translúcida como o céu azul, ora opaca como o desprezo.

No infinito de sua queda, adquiria aceleração. Entre seus pólos divididos e sua velocidade (que tendia à velocidade da luz), dilatou seu espaço, tentando forçosamente abraçar todos seus opostos, que só se afastavam dentro de si.

Aí percebeu. Nunca chegaria. O momento de chegada sempre estaria a um instante de distancia (que diminuia infinitamente, mas nunca desaparecia) de si. Não achou ruim. Sempre haveria a esperança da distância diminuida. E o conforto de saber que nao vai se chegar. Nunca.