quinta-feira, dezembro 31, 2009

[ouvindo pink floyd]

quando eu era pequena eu gostava das coisas que meus pais gostavam. aliás, meu pai (inclusive mulher, HAHAHAHA).

uma vez eu perguntei para o meu pai que time que eu torcia. ele disse que não sabia, mas que ele torcia pro santos. não lembro de ter sido peixe nenhuma vez, mas lembro de achar que se ele era santista, eu também deveria ser.

mesma coisa com música. minhas primeiras mix tapes eram de discos e cds que tinham em casa mesmo, das músicas que eu gostava e sempre ouvia. domingo era o dia mais legal em casa. era o dia que tomávamos café na mesa do jardim. meu pai abria todas as portas que davam pro quintal, ligava o som e colocava música alto. meus pais se davam discos de presente, e faziam dedicatórias na capa (o que eu acho um crime, mas era coisa da época).

tinha o disco da marisa monte, o mais, que era super divertido, tinha vários + destacáveis.

das músicas que eu gravei, tinha money, do pink floyd (eu tinha uma coisa com esse cd do dark side of the moon, que eu achava a capa muito bonita), tinha coisas do tim maia, paul simon (a primeira faixa daquele cd the rythym of the saints acho), beatles (o abbey road tinha uma mix tape própria, com as melhores do disco. eu ADORAVA maxwell silver hammer, e só agora com 26 anos descobri que é a história dum cara que mata a mina com uma martelada), cocain do eric clapton. enfim, essa acabou sendo minha formação musical.

THE END.

quarta-feira, dezembro 30, 2009

a primeira vez que comi uma lichia estava em londres, trabalhando no hilton metropole, se não me engano. era a minha realidade paralela, as cozinhas eram enormes, cheias de corredores e escadas. nesse dia acho que estava fazendo o jantar, ou era almoço, ou café da manhã das pessoas corporativas e ricas. um amigo meu do zimbabue estava me contando que ele tinha deixado a africa por que era branco e agora estava com medo, tinha apanhado na rua, alguma coisa do tipo, porque parece que ser branco não era muito bem visto por lá. aí ele sacou uma lichia do bolso, perguntou se eu já havia comido. ra, na hora achei graça naquela frutinha que eu nunca tinha visto, que tinha uma casca estranha, firme, forte, que parecia realmente uma bolinha.

desde então sempre que como lichia (finais de ano, em geral) eu lembro do trampo no hotel, das comidas gostosas que eu servia para as pessoas bonitas e bem vestidas, da tristezinha que me dava, a toa assim. porque as vezes eu saia pra trabalhar e ainda estava de noite em londres, e frio, chovendo, e eu ficava chateada, porque sei lá, por que é horrível sair de casa quando ainda é de madrugada, ainda mais no frio e na chuva. mas era só na hora, por que eu me divertia demais, teria mil histórias pra contar, mil bebedeiras, mil loucuras e besteiras. na época meu sonho era saltar do ônibus vermelho pelaquela plataforma de trás, com um copo de café na mão, que nem em filme. hoje em dia nem sei mais qual é meu sonho, mas me fez bem ter realizado este.

terça-feira, dezembro 29, 2009

[a desconstrução do perfeito]

atualmente a tecnologia beira a perfeição. a gente vê as rugas dos atores na televisão, as imagens são nítidas e afinadas, as cores perfeitas e balanceadas. com uma máquina fotográfica digital foda, qualquer ser (incluindo gatos, humanos e macacos) tira uma foto perfeita, com tudo no automático. digo, academicamente perfeita. em foco. com as cores, a abertura do diafragma e a velocidade perfeitas.

as pessoas se adaptaram as novas regras da lingua portuguesa. o jornalismo é tão chato que me dá sono, de tanto que abusam desse português perfeito. depois do ponto final vem letra maiúscula, e para o personagem falar, coloca-se travessão.

ninguém mais fuma nem bebe nos filmes. aliás, nem na vida real, fumar só pode na rua ou na sua casa.

tudo é esmuiçado e explicado e repetido, para que todos entendam, ninguém se sinta prejudicado. tudo é minunciosamente controlado. as histórias já começam sabendo-se seu fim.

então,

abaixo o politicamente correto, o perfeito, o belo absoluto, as palavras cuidadosamente escolhidas, o em cima do muro, o dizer não dizendo, o não dizer dizendo, o certo, o errado, a pontuação e a letra maúscula.

eu quero o grão na imagem, a sujeira, o ruido, o des-balance, o fora de foco, luz de mais, ou de menos, o acaso, a cerveja, os palavrões, a sinestesia, o corte não-linear.

walter benjamin desconstruiu o belo, eu quero desconstruir o perfeito.