domingo, setembro 25, 2005

one shot, one choice.

Senta, vou te contar uma história. Era uma vez uma menina. Aí ela se apaixonou por outra menina, mas se apaixonou de verdade. Elas se conheceram e já se amaram, como nunca duas pessoas no mundo haviam se amado. Trocaram confidencias no meio na noite, solitárias uma no abraço da outra. Juraram lealdade e cumplicidade. Juraram ficar juntas para sempre. Combinaram a casa aonde iriam morar, combinaram os filhos que iam ter. Falaram sobre as dores que iam passar, os sofrimentos que iam se causar e se compreenderam. Ou achavam que tinham. Aí um dia (era inverno) essa menina, objeto de sua paixão infinita, disse adeus. A menina que tomou o fora passou dias e noites dormindo (porque assim o tempo passava mais rápido). Passou dias e noites chorando (porque a vontade de gritar era tanta que se transformava em lágrimas).

Até que um dia ela percebeu que o que a outra menina tinha dito na verdade foi "adeus, não sou forte o suficiente para te dar o que você precisa. adeus, porque eu não sou forte o suficiente para tentar." Aí nesse dia ela ficou com tanta raiva (de si mesma), porque ela tinha se jogado de cabeça enquanto os outros simplesmente paravam para pensar. E se deu conta que não queria esperar ninguém pensar. Que na verdade ela não acreditava nisso, em pensar. Porque amor é amor. Amor se sente, não se pensa. Amor de verdade te leva, sem nem você nem perceber que foi. E isso deixou ela com mais raiva ainda, porque ela tinha ido pra um lugar que ela nem queria ir e nem tinha percebido. Ela tinha assumido toda uma culpa e uma sensação de inferioridade que não lhe pertenciam. Que agora ela mal conseguia andar com a cabeça erguida na rua.

Aí chegou a primavera. E no fim daquela tarde, o sol, antes de se por, lhe disse "Filha, faz um favor pro mundo e levanta essa tua cabeça, que quem anda com a cabeça baixa fica corcunda. Acaba com esse teu sofrimento". Aí ela respondeu pro sol que tem gente que não nasceu pra esse mundo, e que ela era uma dessas. Decidiu então acabar com seu sofrimento. E quando chegou em casa ela foi de fininho no quarto do pai e pegou aquela .38 velha guardada na ultima gaveta do criado mudo. E carregou com a única bala que tinha. E ligou praquela que tinha lhe dado o fora. E quando esta chegou em sua casa, ela lhe disse "senta, vou te contar uma história". Ela tinha combinado consigo mesmo que ao fim da história ia por destino naquela bala. Pois é, a história acaba aqui. E mesmo que esse mundo não seja pra mim, vou ficar um pouco mais. Por isso quem morre é você.