quarta-feira, março 31, 2004

aqueles três

da noite só sobrara o nariz sangrando e as notas sujas enroladas dentro do armário. as pesoas tinham ido embora, a começar por ela mesmo, que tinha sido a primeira a ir embora da sua própria casa (não aguentava tanto sentimento junto).

retrocedamos um pouco.

as 7h da manhã ainda olhava pela janela o pátio molhado do mackenzie, naquele dia nublado. a outra esticava mais uma carreira enquanto ela pensava em sair correndo, ali para os lados de higienópolis. às vezes chegava uma hora que não tinha mais o que pensar, então ela ficava com vontade de correr. ficava com vontade de ter aquilo pra sempre, aqueles dois ali, na sua cama pra sempre. Os três, se abraçando, se apoiando, as mãos se procurando, se acomodando, se apertando, querendo criar alguma segurança, tipo um por favor preciso de você, preciso desse momento. preciso não me sentir mais tão sozinho aqui, no meio de tanta gente. preciso acordar sem ter vontade de ficar dormindo. só agora, só esse momento, por favor. não era preciso falar. se precisavam. e ali, deitados os três naquela cama de solteiro cheirando a cigarro, cerveja e desilusão, sabiam que se tinham.