domingo, abril 13, 2008

ontem eu fui atropelada.

então, não que eu tenha caido insconciente no chão e levada as pressas pela emergência para o hospital.

não.

mas ontem já tinha sido um dia difícil. eu tava me sentindo uma otária, que faz tudo errado. uma mulher de 25 anos que ainda agia como uma adolescente inconsequente. já tinha feito tudo que podia e não podia na noite anterior, o que havia culminado em eu de manhã sem roupa na cama de uma pessoa casada, com um gato blasé me olhando de canto de olho.

cheguei em casa as 16h da tarde, morta de sono e fome e resolvi ir ao supermercado. botei a mochila nas costas e fui.

fui descendo a rua dos pinheiros, e quando estava atravessando a cunha gago, aconteceu. a primeira coisa que me passou pela cabeça foi "nossa, está acontecendo de verdade, não adiantou apressar o passo, nada". eu tinha visto o carro virando, mas eu já estava quase chegando ao outro lado da rua. ele resolveu virar quando eu já tinha atravessado quase tudo. mas ele não me viu. eu achei que ele poderia ver, que ele deveria ver, afinal, eu comecei a atravessar antes dele inventar de virar, e como não tinha farol, as pessoas tinham se respeitar. então eu senti aquele peso enorme do carro batendo na minha perna, e virei, e tropecei, e quase cai. quando eu olhei para tras para ver o cara, eu estava com uma raiva, mas uma raiva que eu nem consigo explicar. caralho, eu só estava atravessando a rua, num sábado a tarde, numa hora em que todos estavam passeado, ou fazendo a siesta, ou namorando. acho que aquela hora eu fiz a cara mais feia do mundo pra ele, tipo "porra, precisava de tudo isso? precisava?" e fui embora, meio mancando. só que não consegui continuar, não porque estivesse machucada, mas pelo susto. meu coração estava na garganta, e eu comecei a chorar. porque tudo estava uma merda, porque o carro era pesado demais pras minhas pernas muito finas, porque minha perna estava doendo, porque eu poderia ter morrido. aí eu ouvi o motorista do carro correndo e gritando atras mim. eu olhei pra tras e engoli o choro para ele não ver. não sei porque fiquei com vergonha de chorar, acho que pra não parecer só uma menina assustada. ele me perguntou se eu estava bem. no fundo ele era só um garoto assustado também, com as mãos tremendo e me pedindo desculpas. fiquei mais calma, e fiquei feliz dele ter vindo ver se eu estava bem, porque até aquela hora eu estava achando ele o cara mais filha da puta do planeta. aí sosseguei. enxuguei as lágrimas, pedi desculpas também, podia ter prestado mais atenção, podia ter atravessado em outro momento, podia estar em casa, agradeci por ele ter ido ver como eu estava e fui embora, agradecendo a deus por estar viva, por não ter me machucado, porque aquilo tinha doído demais. de todas as formas. aí todas as vezes que eu pensei nisso, a primeira coisa que me surgiu em mente é o peso daquele carro nas minhas pernas, sem que eu pudesse controlar.

ps: não aconteceu nada. só uns arranhões e partes doloridas.