sábado, março 25, 2006

Meus ouvidos entopem e eu me afundo em pensamentos que insistem em transitar numa espiral crescente de circulos viciosos. As vezes acho que nunca mais vou conseguir fugir dele. Do círculo. Aí as vezes me dá vontade de chorar, de gritar, deitada na cama, mesmo com você em cima de mim, sussurrando em meu ouvido que vai ficar tudo bem. É que como eu disse, o círculo vicioso é uma espiral crescente e acaba sempre engolindo outros pensamentos que o sobreponham. Daí vem o medo de nunca fugir dele. (eu sei quer sou prolixa ao escrever, mas não consigo - nem me esforço - para evitar. É o círculo vicioso. Me entende agora?

Fato é que estou estranhando essa pelica não elástica que me envolve, que me aperta e não me deixa respirar nem transpirar. Aí as vezes eu passo mal. As vezes me falta o ar, esse prédios são altos demais, os ônibus são cheios demais. Me falta o céu, me falta espaço. Mil pessoas que transitam, mil pessoas que se cruzam e não se vêem, não se vêem! Todos indo, à procura uns dos outros, à procura de cigarros, caronas e companhias fugidias. Porque aqui todo mundo acaba sozinho. Todas aquelas personalidades deformadas, achatadas, alongadas, indefinidas pelos prédiostransitoarpoluidodensoquesufoca, os passeios de domingo no shopping, sempre procurando procurando procurando coisas erradas nos lugares errados, meu deus, elas não têm vontade de chorar? No meio de tudo tão grande, tão cinza e tão frio, ELAS NÃO TÊM VONTADE DE CHORAR? Depois de jantares distantes, corações distantes, cumprimentos e seimportamentos superficiais elas não têm vontade de chorar.

Somos membros do Partido. Ouvimos as teletelas 24 horas por dia. Usamos camisas estranhas e tenis puma, comprados na ultima ida ao shopping, onde nos arrastamos sofregamente de uma loja a outra, jogando água num buraco de terra, pra ver se enche o vazio. Em lapso de consciencia desesperada procuramos avidamente olhos descontentes, mas, antes que, o lapso de esvai. E tudo volta a normalidade. A tranquilidade da sociedade estruturada. A comida cara, as conversas artificiais e as constatações óbvias que fazem as pessoas andarem em fila, um braço de distancia, enquanto a poesia e os sentimentos simples secam sob o sol a pino da Rebouças engarrafada.