terça-feira, março 22, 2005

“Se as palavras querem tanto sair, elas que organizem um motim e saiam por conta própria. Mania das pessoas/coisas/palavras sempre esperarem que a gente faça as coisas por elas”.

[Revolução]

Algum jornal sensacionalista, 22/03/05

“JOVEM ACHA CORPO DE AMIGA CHEIO DE BURACOS NO CHÃO DO QUARTO”

      Na manhã do dia 22 Carolina Martinez encontrou o corpo de Paula Davies, imóvel, no chão do quarto do apartamento que dividem. Não havia sinal de violência externa nem de sangue. Algumas palavras pela metade ainda agonizavam no recinto. Acredita-se que cerca de 20 mil palavras conseguiram escapar e ainda estão foragidas.


Mesmo jornal, 25/03/05

“ESTRANHA FORMAÇÃO DE PALAVRAS ATRAPALHA O TRÂNSITO NA CONSOLAÇÃO”

      O engarrafamento na Rua da Consolação durou mais de 2 horas, devido a algumas palavras que se jogaram no semáforo em frente ao Mackenzie e fizeram menção que de lá não iam sair nem tão cedo. Elas diziam apenas “MALANDRO É MALANDRO, MANE É MANÉ, A GENTE FOI ESPERTINHA E DEU NO PÉ”.


27/03/05

“BOTECO NA TEODORO É TOMADO POR GRUPO TERRORISTA DE PALAVRAS”

      Na noite do dia 25 um pé sujo da Teodoro Sampaio foi invadido por um grupo violento de palavras. A “intentona verborrágica” , como foi chamado o incidente, durou a noite toda. Os garçons foram tomados de reféns, mas acabaram a noite jogando palavras cruzadas com seus seqüestradores. Depois de findo o estoque de cerveja, algumas letras bêbadas se perderam de suas palavras, causando morte e destruição. Sem seus O's, a palavra “noção” não agüentou e acabou definhando na beira da calçada. Fato incomum entre as palavras, os médicos acreditam que “noção” já estava enfraquecida. Suspeita-se que o corpo do qual as palavras fugiram não costumava usar “noção” com muita freqüência. Como ela estava empoeirada e bolorenta, é muito provável que tenha ficado muito tempo esquecida em algum canto obscuro.


30/03/05

“AUTORIDADES AMEAÇAM PROCESSAR CORPO ESBURACADO PELO DESCASO COM QUE TRATAVA ALGUMAS PALAVRAS”

      A Academia Brasileira de Letras abriu um processo contra Paula Davies, acusando-a de descuido e mau uso de seus verbetes. Esta, em fase de recuperação no hospital, não teve palavras para responder as acusações.


03/04/05

“MORRE JOVEM VÍTIMA DA FUGA DAS PALAVRAS”

      Depois de apresentar uma leve recuperação, morre Paula Davies, vítima do caso da fuga das palavras. Devido à rapidez do acontecimento, desconfia-se de uma conspiração. Perto do corpo foram encontradas também algumas palavras mortas, formando a frase “VOCÊS NÃO PERDEM POR ESPERAR, HOHOHO”. A descoberta das palavras kamikazes surpreendeu o Depto. de Segurança Pública do governo. O depto. não esperava esse nível de organização e hierarquia entre as palavras. Teme-se o início de uma guerra civil.
      A preocupação aumentou com a descoberta de mais corpos esburacados nos lares paulistanos.


05/04/05

“CIDADE ATERRORIZADA POR OUTDOORS AMEAÇADORES”

      O pânico diante dos outdoors que surgiram pela cidade na ultima noite é geral. Em várias esquinas lê-se frases intimidadoras como “NÃO ADIANTA FUGIR, O PERIGO ESTÁ DENTRO DE VOCÊS”.
      Foram encontrados mais dezenas de corpos esburacados. População amedrontada acaba com estoque de borrachas e corretivos líquidos das papelarias.


09/04/05

      AR, AR, AR NÓS ESTAMOS EM TODO LUGAR!

      REVOLUCÃO JÁ!