sábado, agosto 28, 2004

Um chorinho para dois (instrumental)

E agora, no meio da madrugada fria, quando você não consegue mais esconder, cai. Tudo cai. A farsa que você armou cai. Só fica uma dor bem fininha, lá dentro. Foi bom pra você? Espero que tenha sido porque de resto só serviu para roer lentamente o que eu achava que a gente tinha de melhor.
Agora, depois de tudo, como aceitar seu abraço quente se ainda tem aquela faca no meu peito, entre nós, aquela faca que você mesma enfiou? Como aceitar a cumplicidade desses seus olhos que me viram, impassíveis, chorar que nem uma menininha, uma menininha perdida ali no contra-fluxo dessa multidão de pessoas coloridas, felizes?
Na contra-mão vou eu e o sangue pingando da faca que você enfiou, as lágrimas salgadas que você causou, pra mostrar pra todo mundo ali que você. Que você. E mesmo assim eu vou atrás, querendo que você cuide de mim, do machucado que você fez, porque essa farsa... Ah, essa farsa! Eu vejo nos seus olhos que é uma farsa. E você é tão ruim que usa minhas lágrimas para mostrar silenciosamente para os outros o pedestal qu você construiu pra si mesma, pra ver se, mais alta que eu, seu organismo liberarava um pouco mais daquela maldita substancia massageadora de ego.
Volto para casa, o rosto seco pelo vento gelado que fazia minhas pernas nuas tremerem. Anoitece. Nas ruas quase desertas ficam os restos, as latinhas vazias, as pessoas caidas, o cheiro de mijo. Acabou.