a primeira vez que comi uma lichia estava em londres, trabalhando no hilton metropole, se não me engano. era a minha realidade paralela, as cozinhas eram enormes, cheias de corredores e escadas. nesse dia acho que estava fazendo o jantar, ou era almoço, ou café da manhã das pessoas corporativas e ricas. um amigo meu do zimbabue estava me contando que ele tinha deixado a africa por que era branco e agora estava com medo, tinha apanhado na rua, alguma coisa do tipo, porque parece que ser branco não era muito bem visto por lá. aí ele sacou uma lichia do bolso, perguntou se eu já havia comido. ra, na hora achei graça naquela frutinha que eu nunca tinha visto, que tinha uma casca estranha, firme, forte, que parecia realmente uma bolinha.
desde então sempre que como lichia (finais de ano, em geral) eu lembro do trampo no hotel, das comidas gostosas que eu servia para as pessoas bonitas e bem vestidas, da tristezinha que me dava, a toa assim. porque as vezes eu saia pra trabalhar e ainda estava de noite em londres, e frio, chovendo, e eu ficava chateada, porque sei lá, por que é horrível sair de casa quando ainda é de madrugada, ainda mais no frio e na chuva. mas era só na hora, por que eu me divertia demais, teria mil histórias pra contar, mil bebedeiras, mil loucuras e besteiras. na época meu sonho era saltar do ônibus vermelho pelaquela plataforma de trás, com um copo de café na mão, que nem em filme. hoje em dia nem sei mais qual é meu sonho, mas me fez bem ter realizado este.