[a vida vagabunda e sua relação com o mundo externo antes das 18h]
1. Diálogo na Farmácia do Posto de Saúde, 14h
Personagem A: jovem mulher, temporáriamente desempregada e com vida sexual ativa.
Personagem B: jovem SENHORA, funcionária pública do posto de saúde.
A
(sem graça): Oi moça, sabe o que eu estava precisando?
B
(sem tirar os olhos da revista): Não.
A
(sorriso amarelo): Então... De uma pílula do dia seguinte...
B
(olhar de reprovação e descaso): Olha meu bem, pílula do dia seguinte só com receita médica.
A
(pensativa): Mas... É que pílula do dia seguinte... Pelo que eu saiba... Tem que tomar no dia seguinte, né... E é díficil assim conseguir uma consulta para o mesmo dia...
B
(irredutível): Pois é, mas só com receita médica.
A
(vaca, quer que eu tenha 50 filhos, mesmo desempregada?): Será que tem algum médico aqui pra me dar uma receita?
B
(voltando a ler a revista): Sobe as escadarias X, vira a esquerda e vai lá na Saúde da Mulher, quem sabe não conseguem te arrumar uma amostra grátis.
Personagem A sai andando, sobe a tal escada e chega em frente à uma porta escrito "Saúde da Mulher". A porta está trancada. Ao lado tem uma fila para na odontologia.
A
(perguntando para uma mulher com um filho na fila): Oi, você sabe se tem alguém atendendo aqui na Saúde da Mulher?
Mulher com Filho: Ih, a moça que tava aí acabou de sair.
Personagem A desce escada e volta para a farmácia do Posto de Saúde.
A: Então, moça, não tinha ninguém na Saúde da Mulher...
B
(indignada): Ah, claro, a essa hora o Dr. Fulaninho de Tal já foi embora HÁ MUITO TEMPO.
A
(estranhando): A essa hora as 14h? Você não pode me dar a tal pílula do dia seguinte então? Porque até eu conseguir a receita não vai ser mais dia seguinte sabe, aí acho que não vai adiantar mais também, para o propósito que eu preciso...
B: Não. Só com receita médica.
moral da história: esse país é uma merda e deve ter estoque de pílula do dia seguinte apodrecendo, porque ninguém anda com uma receita no bolso "por precaução".