terça-feira, dezembro 29, 2009

[a desconstrução do perfeito]

atualmente a tecnologia beira a perfeição. a gente vê as rugas dos atores na televisão, as imagens são nítidas e afinadas, as cores perfeitas e balanceadas. com uma máquina fotográfica digital foda, qualquer ser (incluindo gatos, humanos e macacos) tira uma foto perfeita, com tudo no automático. digo, academicamente perfeita. em foco. com as cores, a abertura do diafragma e a velocidade perfeitas.

as pessoas se adaptaram as novas regras da lingua portuguesa. o jornalismo é tão chato que me dá sono, de tanto que abusam desse português perfeito. depois do ponto final vem letra maiúscula, e para o personagem falar, coloca-se travessão.

ninguém mais fuma nem bebe nos filmes. aliás, nem na vida real, fumar só pode na rua ou na sua casa.

tudo é esmuiçado e explicado e repetido, para que todos entendam, ninguém se sinta prejudicado. tudo é minunciosamente controlado. as histórias já começam sabendo-se seu fim.

então,

abaixo o politicamente correto, o perfeito, o belo absoluto, as palavras cuidadosamente escolhidas, o em cima do muro, o dizer não dizendo, o não dizer dizendo, o certo, o errado, a pontuação e a letra maúscula.

eu quero o grão na imagem, a sujeira, o ruido, o des-balance, o fora de foco, luz de mais, ou de menos, o acaso, a cerveja, os palavrões, a sinestesia, o corte não-linear.

walter benjamin desconstruiu o belo, eu quero desconstruir o perfeito.