As luzes amarelas do Vale do Anhangabau me entreem. Não consigo passar esses dias sem um friozinho na barriga, uma perspectiva interessante dos dias que virão. Será tudo isso um sonho? E as coisas vão acontecendo assim, atropeladamente. Às vezes não durmo, às vezes durmo demais. Mas nunca paro de pensar. E sentir. A brisa morna do verão chegando me faz bem. Mesmo esses bichos chatos que ficam rondando no ar. É findo o inverno. Ah! E que venha o verão com toda força. Só é uma pena que eu não vou estar aqui para ver. Mas vou estar sorrindo, lá daquela ilha distante. Seu moço da imigração, pode acreditar, não quero ficar no seu país para sempre não. É porque o senhor nunca sentiu aquele sol quente de manhã, te convidando a sair de casa e ver as coisas lá fora, por isso que o senhor acha que eu vou querer ficar aqui pra sempre. O senhor não conhece aquelas pessoinhas que eu conheço. Porque se conhecesse, teria a certeza que eu vou voltar. Só vou dar o ar da minha graça por aí.
Tem dias que eu acho que vai tudo dar certo, tem dias que eu tenho medo. E tudo passa tão devagar, eu esmiuço os dias em minutos segundos centésimos de segundos. Em planos e hipóteses, teorias e práticas. Me sinto estranha com a sensação do incerto. Não como se fosse uma vida sem rumo, mas como se fosse uma surpresa. E eu vou mergulhar de cabeça nisso que eu ainda não sei o que é, mas escolhi ter. Ainda estou como alguém que não sabe nadar a beira da piscina, enrolando para entrar. Mas quando me jogarem na água, aí eu vou ter que aprender a nadar. Tô achando ótimo.