[é a troca e a tarefa. eu dou uma história, mas tirem isso de dentro de mim]
É os dois. Doloroso e inofensivo. Quase como acordar.
Quando me deram essa resposta, eu já nem me lembrava mais qual era a pergunta. Por alguns minutos me perdi na cegueira de olhar o sol a pino do almoço que queimava kilometros de campo aberto onde eu estava deitada. Me deixei esquecer, com o sol que expirava devagar no meu corpo todo, abrindo cada poro de suor para transpirar tudo de errado que havia dentro de mim. Apertei os olhos com os punhos fechados e vi estrelas, vi cometas, vi luzes que se acendiam e apagavam. Esfreguei devagar. Raios. Abri os olhos e fiquei, até acostumar com a claridade de novo. Rolei com o corpo devagar, aproveitei e cheirei a grama, cheirei a terra, mordi um pedaço e mastiguei, senti cada grão passando e descendo por cada órgão vivo do meu corpo, até parar no coração, onde tinha uma enorme horta com todos os legumes do mundo plantados, tinha até minhoca escavando a terra fofa, dava até gosto de por a mão. Tinha cenourinhas, tomatinhos, alfacinhas. Era calor, elas precisam de água. Rolei mais um pouco, até o rio, e bebi água, deitada na beirada. Era a água mais fresca do mundo, aquele era o sol mais quente do verão, e eu resolvi entrar de corpo inteiro. Tinha peixes coloridos, tinha algas verdinhas balançando ao sabor do vento aquático que soprava gostoso, que refrescava todas as criaturas, inclusive eu. Vi anêmonas, caranguejos, vi polvos que passavam por mim e me abraçaram, me acariciavam, me beijavam a testa e me diziam: Paula, Paula, você é só uma menina, Paula. A menina dos olhos castanhos calados e dos pulsos finos. Fechei os olhos, deitei na língua da baleia e dormi.