domingo, fevereiro 22, 2009

[conto erótico de carnaval]

o lusco-fusco do sábado de carnaval foi arrastado. vi o dia começar a escurecer querendo sair para beber, e qdo já era noite, estava transpirando febre e dipirona sódica pelo quarto fechado.

ao cair da noite meu estado de saúde foi deteriorando. o que havia começado com dois espirros já tinha virado enxaqueca, mal estar, dor no corpo queimando a 40º.
na janela do quarto ouvia de longe as marchinhas, e torcia para o bloco virar em alguma rua e não seguir em cortejo até o que seria meu túmulo no futuro, caso a febre não arredasse.

os caras da pensão bateram a porta do meu quarto, já com as garrafas de cachaça, prontos pra sair. ao abrir a porta, um bafo quente saiu do quarto e ninguém sequer se incomodou em insistir para que eu saisse de casa, fecharam a porta e foram embora, num silêncio respeitoso pelos moribundos.

estava suando toda a febre que tinha no meu corpo, então fiquei só de cuecas na frente da janela aberta, para ver se entrava um ar que amornaria meu corpo. não sei se estava ligando de não sair, não sei se estava ligando de ficar sozinho, não sei. por mais que todas a janela estivesse o mais aberta possível, cada particula de ar estava parada, e elas sequer encostavam no meu corpo. provavelmente elas desviavam quando eu passava a mão.

peguei o pano dentro da bacia de agua fria e comecei a passar pelo meu corpo, para refrescar. pinguei na minha nuca, e o pingo desceu as costas inteiras, como água na chapa quente. eram pingos frios, diferentes dos pingos meio pegajosos que brotavam da minha testa, estava muito calor, muito calor mesmo, e até as paredes do quarto transpiravam pingos pequenotes, pequenos pingos que ficavam na jarra de suco gelado no café da manhã fervente de domingo. as parede também transpirava sua febre no sábado de carnaval, aquela febre de cômodo fechado, febre moribunda de paredes antigas e rachadas, que já beberam muitos carnavais e sabem do que estão falando.

encharcado, deitei e fechei os olhos. o bloco não ia desviar, ia passar logo debaixo daquela janela, o bloco das pessoas suarentas, bêbadas, fedidas, loucas de lança, pinga, cerveja e de tudo que eu estaria também. deitei e me cobri, tiritando de frio.

aí ela abriu a porta e entrou, sem perguntar se podia. me olhou na cama, pegou a bacia, sentou na beirada da cama, torceu o pano e colocou na minha testa. pegou minha mão e beijou de leve as pontas dos dedos. pegou o pano e desceu, enxugando o pescoço, os ombros, meu peito. molhou de novo e deixou-o na testa, escorrendo pelas têmporas. fechei os olhos, só fiquei sentindo os pingos escorrerem. ela tirou o vestidido rosa já roto de tantos carnavais e, sem nada por baixo, deitou do meu lado, na cama apertada de solteiro. fiquei tenso. ouvia uma respiração ofegante, não sabia se era minha, se era dela, e o bloco já estava passando embaixo da minha janela e eu já conseguia sentir o cheiro de suor do povão quando ela de repente rolou pra cima de mim e aí não existia mais cheiro de povão nenhum, existia o cheiro do suor dela, aquele suor de quem trabalhou o dia inteiro, mas era cheiro de moça. os peitos dela encostando em mim, e eu, entre suas pernas abertas, e o bloco já embaixo da minha janela sufocando os meus gemidos. me senti com 15 anos de idade, sem saber o que fazer com aquilo que tinha ali, ela me beijando o pescoço e puxando minhas mãos de encontro aos seus peitos.

só me lembro de ter acordado sozinho, enrolado no lençol inteiro molhado de suor, no quarto cheirando a febre e dipirona sódica.

havia sido noite de carnaval.