Quando eu era menor minha mãe sempre me dizia que a gente não dava só pra uma coisa. Por exemplo, ela, se não fosse médica, poderia ter sido uma historiadora feliz. Ou uma boa faxineira (ela gosta de limpar as coisas). Eu não acreditava muito, eu achava que a gente tinha uma vocação, e que seria extremamente infeliz se não seguisse essa vocação.
Depois que eu fiquei mais velha, percebi que nada precisava ser definitivo e para sempre, e que a gente era muito mais complexo que uma simples vocação. Que gostar de uma coisa é algo absolutamente relativo. Que se eu não fosse cineasta talvez seria bem feliz também sendo astronauta, matemática, cobradora de pedágio, motorista de caminhão.
E assim também com os amores.
Não que eu não acredite mais em princesas encantadas. Eu acredito - e muito - mas agora acho que podem existir várias na minha vida. Já passaram uma, duas, três, e sempre, depois que elas iam embora (elas sempre foram embora - nunca fui forte o suficiente para largar alguém que eu gostasse, por mais mal que me fizesse) eu achava que era o fim de tudo, do amor, da consideração, da magia. Aí eu sofria, chorava, mas dali a pouco já começava a sorrir de novo, a perceber como haviam tantas meninas bonitas no mundo, a admirar como elas eram interessantes, inteligentes, e me surpreendia, pois até havia esquecido que poderiam (e deveriam!) ser assim. Aos poucos já estava rindo de novo e pronta para outra princesa encantada.
Não que eu esteja menosprezando o que já passou, ou super estimando o que ainda está por vir. Não. Eu adoro o que já passou. Cada lembrança é preciosa, me fazem rir, chorar, tudo novamente. Me deixam descansar, por que eu já passei por aquilo e não preciso passar de novo. Me dão frio na barriga, por mais que eu já tenha lembrado daquilo milhões de vezes.
Os destinos não seguidos, os amores não consumados e os namoros desfeitos serão os galhinhos secos da minha vida, e eu sempre vou pensar em todos com muito carinho. Foi pra lá que não foi a água que acabou então por irrigar e fortalecer esse galho vivo e esverdeante que é meu caminho presente.