[ten years living in a paper bag]
em frente ao computador roia todas as unhas, tentando pensar em algo decente pra escrever. ver se assim dissipava um pouco da energia acumulada, a ansiedade dando voltas no estomago vazio. "i swear they´re out there, i swear". tec tec tec. backspace. cafe, cigarro, a madrugada rolando solta. parecia que as palavras nao queriam mais sair, se juntar e formar frases, que nem elas faziam antes, com tanta facilidade. e agora? o que ia fazer da vida? a unica coisa que achava q sabia fazer havia morrido em algum lugar do passado remoto, sob rascunhos amassados, cinzas e noites mal dormidas. estava decidido, amanha ia comecar a andar de bicicleta. tinha que gastar energia de alguma forma. podia ser fazendo sexo loucamente, mas desculpe senhora, essa opcao não está disponível no momento, escolha novamente. tec tec tec tec. enter. enter. tec tec tec. press 1 to confirm, press 2 to choose again or press 3 to return to the main menu. this is home. e ouvindo aquelas cancoes enquanto nao conseguia escrever uma palavra, pensava como alguem podia escrever algo tao bonito como aquilo. tao bonito, tão verdade. poderia ter sido eu, pensava. não, não poderia. backspace. backspace. back back back backspace. de repente cansou e arrancou o backspace fora. mania de querer apagar tudo, agora o que eescrever vai ser, o que escrever vai ficar, não foi dada a opção pressione 2 para backspace. e essa barra piscando antes de cada letra a ser escrita? mania insuportável de ficar piscando. o que é? uma afronta? pisca pisca pisca. decidiu escrever tao loucamente para não dar tempo da barra piscar, ja estava ficando irritada com tamanha petulancia. vai vai escreve. qualquer coisa. resolveu por o backspace de volta, não tinha tantas ideias para escrever tantas coisas diferentes a ponto de não dar tempo da barra não piscar, então tinha que ir apagando as coisas e escrevendo de novo. um exercicio de ginasio praticamente. alias, a pratica leva a perfeição, dizem. dizem, vai lá saber né? comentou com seus botoes, com as cinzas no cinzeiro, com o resto de café frio no fundo da caneca. coçou a cabeca. pensou a quanto tempo não tomava banho. fazia alguns dias. pensou em como poderia estar, não fazia noção. talvez estivesse há uns 10 anos em frente ao mesmo documento vazio do word. podia ser. vai saber. cansou de pensar no final, então apertou 9 para falar com o atendente. é tão confortante saber que se você não achar sua opção, mesmo após ouvir todas as opções de 1 a 8 dadas pela gravação, sempre haverá a 9 que é falar com um dos atendentes. é uma das poucas seguranças do mundo moderno. ficou aliviada com essa conclusão. por que tanta ansiedade, se sempre resta a número 9? por que? tudo era tão claro agora. estava fazendo uma tempestade num copo d'agua, concluira. respirou aliviada. sentiu o corpo mole, os olhos fechando. calmamente desligou o computador e foi dormir.