[so happy together.... how is the weather?]
Obviamente menor de idade, a menina solta a fumaça do cigarro desviando o olhar para o infinito, como se a mulher da entrada do motel tivesse muito preocupada com outra coisa além do relógio que marcava a hora de ir embora. Claro que a mulher não percebeu as olheiras fundas nos olhos da menina, nem o olhar triste do menino no carro junto com ela. Nem a garrafa de pinga barata embaixo do banco do carro. Era um acordo de cavalheiros: a mulher não liga para quem entra e quem entra não liga para o trabalho relapso da mulher. Relapso? Sim. Em todos os rostos a mesma expressão de "riso-nervoso-tesão-reprimido". E isso irrita, porque se ela chegar em casa com essa expressão, o cara (sim, digo o cara porque seria muito chamar aquele homem de marido) que parasita aqueles comodos vai perguntar se o dinheiro do trabalho tá pouco por isso ela resolveu virar prostituta. Enfim, ela não reconheceu essa expressão nos meninos de olheiras fundas e olhares tristes. Não sei se passou pela sua cabeça que o ultimo motivo pelo qual eles tavam lá era o sexo. Que na verdade eles só queriam beber e conversar, até dar a hora de ir embora. E era tão duro ir embora... deixar a bolha que eles criaram só pra eles dois e voltar ao mundo das pessoas, das brigas em casa, do choro incontido, dos tapas na cara, das corridas sem fim até as pernas cansarem. Pouco antes do carro arrancar, a menina voltou o olhar do infinito (para onde ela olhava para disfarçar sua pouca idade) e depois de fitar rapido (mas o sufuciente) os olhos da mulher, pensou que talvez ela não fizesse parte do mundo das pessoas, para onde ela temeria voltar algumas horas mais tarde. Talvez ela também temesse voltar para lá.