[para samira]
ana e o algoritmo de sua crise
Assim como uma nuvem que colapsa e vira uma estrela, Ana caiu sob seu próprio peso, e este, tendendo ao infinito proporcionou-lhe uma queda e tanto.
A queda durava tanto, tanto mais do que tudo que havia vivido até então, que esta deixou de ser um estado transitório para virar a condição permanente. A vida tinha tornado-se a queda, com vento na cara e braços abertos.
E cada vez mais sua própria gravidade a puxava para dentro de si. E essa força, que pela lógica a deixaria cada vez menor, pelo contrário, a engrandecia tanto que Ana não cabia mais dentro de si. E o buraco da queda crescia sem fim: o chão não chegava nunca. Era como se ela houvesse se esquecido de como eram as coisas concretas e palpáveis. Essa tinha-se tornado uma sensação perdida, uma lembrança empoeirada. Como um gosto de infância, evocado quase num deja vu. vu.
Desacostumou-se a viver com a certeza. Esta não era mais presente, portanto, não mais necesssária.
"Mas eu gosto da certeza", pensou ela. "Mas eu gosto do arrepio da eterna queda também", concluiu. Ana transbordava seu microcosmo, mas se sentia pequena demais oscilando nos espaços perdidos do macro. Não sabia como agir. Tinha se tornado contraditória. Ora era translúcida como o céu azul, ora opaca como o desprezo.
No infinito de sua queda, adquiria aceleração. Entre seus pólos divididos e sua velocidade (que tendia à velocidade da luz), dilatou seu espaço, tentando forçosamente abraçar todos seus opostos, que só se afastavam dentro de si.
Aí percebeu. Nunca chegaria. O momento de chegada sempre estaria a um instante de distancia (que diminuia infinitamente, mas nunca desaparecia) de si. Não achou ruim. Sempre haveria a esperança da distância diminuida. E o conforto de saber que nao vai se chegar. Nunca.
is that all there is ? if that´s all there is my friend then let´s keep dancing...
sábado, maio 13, 2006
quarta-feira, março 29, 2006
segunda-feira, março 27, 2006
sábado, março 25, 2006
Meus ouvidos entopem e eu me afundo em pensamentos que insistem em transitar numa espiral crescente de circulos viciosos. As vezes acho que nunca mais vou conseguir fugir dele. Do círculo. Aí as vezes me dá vontade de chorar, de gritar, deitada na cama, mesmo com você em cima de mim, sussurrando em meu ouvido que vai ficar tudo bem. É que como eu disse, o círculo vicioso é uma espiral crescente e acaba sempre engolindo outros pensamentos que o sobreponham. Daí vem o medo de nunca fugir dele. (eu sei quer sou prolixa ao escrever, mas não consigo - nem me esforço - para evitar. É o círculo vicioso. Me entende agora?
Fato é que estou estranhando essa pelica não elástica que me envolve, que me aperta e não me deixa respirar nem transpirar. Aí as vezes eu passo mal. As vezes me falta o ar, esse prédios são altos demais, os ônibus são cheios demais. Me falta o céu, me falta espaço. Mil pessoas que transitam, mil pessoas que se cruzam e não se vêem, não se vêem! Todos indo, à procura uns dos outros, à procura de cigarros, caronas e companhias fugidias. Porque aqui todo mundo acaba sozinho. Todas aquelas personalidades deformadas, achatadas, alongadas, indefinidas pelos prédiostransitoarpoluidodensoquesufoca, os passeios de domingo no shopping, sempre procurando procurando procurando coisas erradas nos lugares errados, meu deus, elas não têm vontade de chorar? No meio de tudo tão grande, tão cinza e tão frio, ELAS NÃO TÊM VONTADE DE CHORAR? Depois de jantares distantes, corações distantes, cumprimentos e seimportamentos superficiais elas não têm vontade de chorar.
Somos membros do Partido. Ouvimos as teletelas 24 horas por dia. Usamos camisas estranhas e tenis puma, comprados na ultima ida ao shopping, onde nos arrastamos sofregamente de uma loja a outra, jogando água num buraco de terra, pra ver se enche o vazio. Em lapso de consciencia desesperada procuramos avidamente olhos descontentes, mas, antes que, o lapso de esvai. E tudo volta a normalidade. A tranquilidade da sociedade estruturada. A comida cara, as conversas artificiais e as constatações óbvias que fazem as pessoas andarem em fila, um braço de distancia, enquanto a poesia e os sentimentos simples secam sob o sol a pino da Rebouças engarrafada.
Fato é que estou estranhando essa pelica não elástica que me envolve, que me aperta e não me deixa respirar nem transpirar. Aí as vezes eu passo mal. As vezes me falta o ar, esse prédios são altos demais, os ônibus são cheios demais. Me falta o céu, me falta espaço. Mil pessoas que transitam, mil pessoas que se cruzam e não se vêem, não se vêem! Todos indo, à procura uns dos outros, à procura de cigarros, caronas e companhias fugidias. Porque aqui todo mundo acaba sozinho. Todas aquelas personalidades deformadas, achatadas, alongadas, indefinidas pelos prédiostransitoarpoluidodensoquesufoca, os passeios de domingo no shopping, sempre procurando procurando procurando coisas erradas nos lugares errados, meu deus, elas não têm vontade de chorar? No meio de tudo tão grande, tão cinza e tão frio, ELAS NÃO TÊM VONTADE DE CHORAR? Depois de jantares distantes, corações distantes, cumprimentos e seimportamentos superficiais elas não têm vontade de chorar.
Somos membros do Partido. Ouvimos as teletelas 24 horas por dia. Usamos camisas estranhas e tenis puma, comprados na ultima ida ao shopping, onde nos arrastamos sofregamente de uma loja a outra, jogando água num buraco de terra, pra ver se enche o vazio. Em lapso de consciencia desesperada procuramos avidamente olhos descontentes, mas, antes que, o lapso de esvai. E tudo volta a normalidade. A tranquilidade da sociedade estruturada. A comida cara, as conversas artificiais e as constatações óbvias que fazem as pessoas andarem em fila, um braço de distancia, enquanto a poesia e os sentimentos simples secam sob o sol a pino da Rebouças engarrafada.
domingo, janeiro 15, 2006
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